Mudando pra ser feliz

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Voltar, às vezes, é como não ter partido.

“O tempo não comprou passagem de volta”. Mário Lago

O que de tão difícil há em regressar ao lugar de origem?
Talvez o sentimento de que voltar ao ponto de partida signifique voltar àquilo que angustia, incomoda, dói. Apesar da viagem em si e o destino sempre provocarem transformações no viajante, para mim está incomodando muito a sensação de que, maior que os aprendizados transformadores, são os problemas e as dificuldades existentes na origem. E o fato de que eles jamais se resolverão com quantas viagens, partidas ou chegadas eu decida fazer.
A paciência está mais que no limite. A intolerância, a irritação, a tristeza. É um pacote de coisas ruins, das piores que existem dentro de mim.
E ainda há uma profunda mágoa de não ser insistente o suficiente - já que ouvi me dizerem que força sempre teremos, se procurarmos bem e ela for necessária - para sair da beira deste abismo, do qual por algumas vezes me acreditei longe, mas que acabo sempre me arrastando para mais e mais perto.
Em ambas as viagens tive momentos ótimos, não posso ser injusta.
BsAs me trouxe, apesar do pânico do aeroporto, o novo, o desconhecido, a convivência, o cansaço físico e não mental, os sorrisos, os sorvetes e as poucas horas de sono diárias. Mas em alguns momentos a apatia tomava conta de mim, e era preciso lutar contra isso para que não pusesse a perder o prazer dos outros. Ainda assim, valeu estar ali, e quem sabe um dia, em um outro momento da minha vida, eu possa curtir novamente essa viagem como algo mais encantador ainda.
Cwb não foi diferente: pelo voo sozinha, a ansiedade em uma hora e pouco no avião, o abraço do amigo no aeroporto, os roteiros turísticos guiados por um carioca numa cidade que ele tanto critica, por ter cumprido a missão de levar algum conforto ao coração de quem sempre me ajudou. Ainda assim, nos momentos sozinha no quarto do hotel, e talvez pela chuva insistente nos dois últimos dias, a vontade de retornar mais cedo, de simplesmente sair dali, foi muito forte. Resisti bravamente e fiquei até o último dia, e mesmo com atrasos na volta, senti que também precisarei voltar lá um dia, para aproveitar a cidade como merece ser.
Depois de duas semanas entre aeroportos e cidades, entre mágoas, alegrias, tristezas, ressentimentos e dores, me vejo hoje pensando em que razões existem para que eu me julgue menos merecedora de carinho, atenção, reconhecimento, compaixão e solidariedade de pessoas que eu acreditava serem capazes de ver minhas fraquezas e estarem ao meu lado.
Li na Amélie algo que ela escreveu e que se parece muito comigo: não é porque estou sempre segura, firme, forte, decidida que significa que não preciso de carinho, apoio, proteção.
Preciso sim, muitas vezes mais até do que consigo dizer. E meus mecanismos de defesa, talvez porque nunca aprendi a me mostrar frágil, desandam pro lado rude, irritado, cruel, que ao invés de permitir a aproximação do outro, causa mais afastamento.
Hoje não sou nem sombra do que já fui. Perdida no meu mundo, me ferindo, me punindo, me maltratando. Me isolando para não machucar quem eu gosto, mesmo que por várias vezes eu acabe fazendo isso, e me culpando mais e mais.
Quero reclamar o que sei que mereço. Quero acreditar que é possível mudar o que não me deixa feliz. Quero me transformar em alguém cuja companhia seja um prazer e não um fardo. Mas quero, acima de qualquer coisa, me reencontrar.
Porque em algum ponto da trajetória que tracei para mim, deixei de ser quem eu posso ser, para me transformar em alguém que as pessoas esperam que eu seja. O senão desta decisão é que este alguém tem 'prazo de validade'. Este alguém inventado, criado, mantido de aparências, se sustenta por um tempo, que pode ser curto ou longo, dependendo do ator. Mas sempre acaba se desgastando, desbotando, empalidecendo.
É neste momento que os outros vão cobrar o que nunca perceberam que era uma farsa. Vão querer saber o que mudou, porque está amarga, impaciente, apática, triste. Vão dizer que não há motivos de estar assim, que tem tudo que qualquer pessoa poderia querer, que devia ser grata e feliz por isso. Nunca vão notar que sempre esteve assim, mas revestida de uma fantasia que agradava a todos. E quando contar a eles porque fez isso, porque se fantasiou e se anulou ou diminuiu para que eles não se desapontassem ou entristecessem, ainda terá que ouvir que ninguém nunca exigiu isso, e que devia sempre ter feito o que fosse melhor para você .
É neste ponto exato da vida em que me encontro.
Deveria estar satisfeita por milhares de coisas, deveria tratar todos ao meu redor bem, afinal, viajei, me diverti, estou 'curtindo férias', não tenho motivos para estar de mau humor ou infeliz.
E no entanto não é como me sinto. E tem sido realmente difícil, pelo menos desta vez, pelo menos por agora, disfarçar essa decepção com o mundo e comigo mesma.
Será que um dia isso passa? Será que essa mágoa um dia se cura? Quero, e preciso acreditar que sim. Preciso ordenar a vida, os pensamentos, meu mundinho particular. Preciso redescobrir o que me faz de fato feliz, e batalhar por esses sonhos. Preciso, como a criança que cai ao tentar dar os primeiros passos, mas que se levanta e insiste, teimar em levantar e caminhar para o destino que me traga a paz e a serenidade que meu coração e minha alma tem implorado.
Porque se assim não for, de que adianta estar aqui?

"Há pessoas que nos falam e nem as escutamos;
Há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam.
Mas há pessoas que, simplesmente, aparecem em nossa vida, e que marcam para sempre..." Cecilia Meireles

Bjs

2 comentários:

Amélie Poulain disse...

Olá Mima!!!
Nossa, fiquei infinitamente feliz em ver meu bloguito aqui, e a referência ao texto de ontem!
Obrigada mesmo! De coração!
Agora estarei por aqui sempre, te seguindo de pertinho, e pq pelo q vi, temos muitos pensamentos em comum!
Parabéns pelo blog! Adorei seu jeito de escrever!!

Beijocas!!!

Flor de Lótus disse...

Oi,Mima!Td bem?Acho que agora entendi melhor o teu ocmentário no meu blog.Acho que estamos passando por um daqueles rituais de passagem tentando nos achar, as mágoas, a falta de paciência fazem parte do caminho e da aprendizagem.A verdade é que as pessoas muitas vezes não prestam atenção no que a gente pensa, no uqe a gente sente, a gente finji que é feliz elas fingem acreditar e assim vivemos.;Mas um dia as máscaras caem e a verdade aparece nua e crua.
Cuide-se!
Beijos